2010-12-05

Filme: Demônio

É interessante notar que no cartaz de Demônio (ou Devil, no original), o nome com maior evidência é o de M. Night Shyamalan, apesar de, desta vez, o indiano naturalizado americano não dirigir a película. Entretanto, sendo produzido e co-roteirizado por Shyamalan, baseado numa ideia deste, o filme sem dúvida tem "a cara" dele.

filme demônio shyamalan poster cartaz

Em Demônio, temos uma história bem básica e simples. Cinco pessoas acabam presas em um elevador num alto edifício. Todas essas pessoas têm uma boa bagagem de pecados nas costas. Só que uma dessas pessoas não é exatamente uma pessoa, e sim, o diabo encarnado. E, uma a uma, as pessoas vão sendo mortas no elevador, enquanto um policial detetive, do lado de fora do elevador, tenta entender o que se passa lá dentro. Esta é a trama básica.

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E se você não entendeu algo da história, não se preocupe, pois o filme é extremamente didático. O narrador, que depois descobrimos ser um dos vigilantes do prédio, que assiste a tudo pela câmera de segurança do elevador, logo de cara deixa bem claro sobre o que é o filme. Segundo ele, às vezes "o demônio finge ser humano para torturar as pessoas condenadas antes de reivindicar suas almas". Bem, é claro que esse mesmo narrador, na história, amedrontado até o último fio de cabelo, também diz algumas coisas escabrosas, como o papo do pão cair com a geleia (ou manteiga, não lembro) para baixo, sempre que o diabo está por perto.

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Nesse sentido, Demônio perde boa parte da sua graça. Ao sabermos de antemão que é o diabo o vilão, não se cria um grande clima de suspense, de tensão, mesmo que, no início, ainda perdure a dúvida de qual dos presos no elevador seja o diabo (e a revelação no final nem é uma surpresa tão grande assim... bom, pelo menos eu já havia pensado naquela possibilidade). Outro problema é que as tramas paralelas, envolvendo a investigação do detetive Bowden (Chris Messina) sobre as pessoas presas no elevador, pouco acrescentam à trama principal. Elas servem para mostrar um pouco mais dos personagens dentro do elevador, mostrar seus pecados e do porquê estarem ali, e nesse aspecto, são positivas. O problema é que o Bowden vai fazendo seu trabalho policial tentando de maneira racional resolver os crimes, mas já sabemos que isso não vai dar em nada, pois nós, espectadores, já sabemos o real culpado do caso. E, nesse aspecto, acaba saturando um pouco o espectador, tornando essas subtramas um pouco chatas.

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Bem, se o roteiro (escrito por Shyamalan e Brian Nelson) não é dos melhores, pelo menos a direção de John Erick Dowdle consegue segurar as pontas. Dowdle, que de notável anteriormente teve apenas a refilmagem americana de REC, consegue tirar dos atores boas atuações (destaque para Logan Marshall-Green e a linda Bojana Novakovic), o que é mais do que essencial no filme, visto que o diretor optou por usar muitos planos fechados, focando os rostos dos atores, mesmo nas cenas fora do elevador. Nas cenas dentro do elevador essa opção visual já era esperada, não somente pelo espaço físico restrito, mas também e principalmente, para criar um clima de sufocamento/claustrofobia, como seria esperado em um elevador fechado e parado no alto do prédio.

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Visualmente, Demônio é muito bom. Desde a abertura com uma visão da cidade de cabeça para baixo (fazendo um contraponto ao encerramento de maneira muito bacana), até os constantes planos em que estamos posicionados vendo o prédio de baixo para cima (o que já denuncia um certo perigo) envolto em nuvens negras de uma tempestade se formando (escancarando um mau agouro), o filme consegue criar um clima interessante. Infelizmente, esse clima nunca chega a um ponto muito mais alto, pois o roteiro "quadradinho" não cria um suspense muito forte. Na verdade, pra mim, o maior suspense foi saber como seria a reação do detetive Bowden no final, ao ser revelado o motivo de ser ele a estar ali (pois segundo o narrador, todos ali estavam ali porque tinham de estar, inclusive os que estavam fora do elevador). Típico do cinema de Shyamalan, a não existência de coincidências.

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Enfim, Demônio é mais um filme de suspense sobrenatural, do que propriamente terror. Está longe de ser uma obra-prima, mas por 80 minutos (sim, é curtinho o filme), consegue prender a atenção. Mas não espere grandes sustos e surpresas.

Trailer:



Para saber mais: crítica no Cinema em Cena.

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